sexta-feira, 8 de maio de 2009

Um sorriso.

Há sorrisos que em nossos olhos descansam e lá permanecem mesmo bem depois de findos os motivos que os causaram; fazemos deles razão para nossos próprios, enquanto temos sobre eles qualquer participação. Clara fraqueza, por uma vez que os vemos tão alheios a nós, à distância de um olhar mas não de um toque, causam nada em nosso rosto além de contrações cuja amargura em nada lembra o par alegre que constituiam as duas bocas em questão.
Descansemos, então, sabendo que não há força no mundo capaz de roubar aos nossos olhos o sorriso de Audrey. E em verdade, faz-se necessária aqui a conclusão de que não há amor mais fiel do que o amor entre nós e a arte que nos acomete, seja qual for. De nós nada cobra além de um momento de atenção para que retribua com um sorriso, mesmo que o mesmo em nós falte, sorrirá por nós ao mundo.
Um sorriso meu, então, a seguir.


2 comentários:

  1. Leio essas palavras, surpreendo-me em encontrar faces minhas em algumas delas. Aliás, aqui detém forma mais elaborada, é verdade, porém equivalente em essência.

    Gosto de tentar decifrar personalidades e o faço porque meras impressões não me satisfazem. As sutilezas e minúcias, estas sim me atraem. Discorrerei breve sobre a personalidade que encontrei aqui e a chamarei de “ele”, sem querer reduzi-la em pronomes.

    Imagino que ele e sua arte já transcenderam as arestas de uma sensibilidade ingênua, a busca pela auto-estima. Em tantos momentos foi incoerente, exagerado, monótono, enxergou bichos onde não havia, tudo carinhosamente perdoado por si próprio por compreender que isso fazia parte do “crescer” por fora e principalmente por dentro; sentiu suas mudanças, foi espectador delas. Entre cá e ali, obteve seus auges. Amável, amado, amigo, erudito, sensível ele nunca deixará de ser. E como amou, quantas vezes se entregou por amor. Agora a vida já não lhe parece tão boa quanto os paradisíacos dias infantis, o lugar de origem. Melancolicamente, ele tenta fixar-se nas coisas pequenas que compõem sua trajetória, o que é ótimo, pois mostra o quão dá valor às coisas. Mas intimamente falta-lhe algo maior, algo que preencha certas lacunas. Ele não se sente pleno. Eu asseguro, dias melhores virão, as peças faltosas do seu quebra-cabeça estariam mais perto se ele soubesse quais são. Desconfio que seus medos, suas angústias o tenham transformado e evoluído num curto prazo; apesar de sua magnífica inteligência, às vezes escorrega num intelecto enfadonho – que não o torna diminuto. Pois bem, ele é mais que isso. Sabe discernir os fatos, possui um olhar transparente, vê além da casca, dos vocábulos, possui um way-of-thinking peculiar. Ele precisa narrar-se, transbordar-se em palavras – e o faz tão sincero, tão aberto, tão vulnerável. E mesmo que possa afirmar para si mesmo que a inocência já não lhe faz parte, forço-me em discordar. Ele também procura felicidade, também se sente sozinho, também chora. E é tão sonhador... Ele pode achar-se um incompreendido, disso eu não tenho certeza. Se for este o caso, o que estou escrevendo agora servirá para reforçar seu sentimento - ou não. Verá que existem outros como ele. Mesmo que somente parecidos, não iguais.

    Finalizando; más notícias: ele é o retrato de uma parte minha desfalecida que tão surdamente faço questão de incorporar. Ele incomoda-me, nunca serei como ele. Mas por certo isso tudo não passará de uma nefanda e ordinária análise, então não se contamine com isso. Acerto, um ínfimo que seja (?)

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  2. Em todo caso, além de erros e acertos, ele sente que as letras pelas quais se expõe aqui valem a pena demais quando lidas com essa atenção e quando se expandem, além do texto, à pessoa.
    Ele agradece e se impressiona.

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