sábado, 8 de janeiro de 2011

pra ser tão gente.

De sós, pisamos a rua; de enfado, a casa voltamos. Talvez, a impossibilidade com que lidamos todo dia em nossa roda lenta de pessoas é a falta de medida entre o que buscamos e o que se pode achar.
Não se é, em cada cama de solteiro, gente o suficiente; masturbamos solitários nossa individualidade aleijada até decidirmos que deve haver, há de haver por aí, sujeito qualquer que complete o naco de gente que nos falta. E quão humilhante é a busca até que se encontre rostinho ordinário que carregue o que pensamos nos faltar. E vá lá, que divertido pode ser por tempo breve - breve - durante o qual nos sentimos gente plena. E seja em nossa casa vazia ou na avenida maior que há, carregamos esse rostão satisfeito de gente toda. Breve, é breve e lhe digo novamente que é breve.
Logo, tão mais cedo do que você esperava, eu garanto - eu garanto - há de se pensar, quase saudoso, na ausência daquele teco de gente. A náusea virá, e nos vemos gente demais; é gente caindo pelos ouvidos, é fartura de gente expulsa em golfadas, é gente excretada por cada cada poro que possível for, até restar, tão somente, a parcela malefeita de gente que costumávamos ser. Não nascemos pra ser tão gente, duas pessoas é gente demais. E de enfado, a casa voltamos.
Voltando à questão da falta de medida, e com ela concluindo, meio termo não há; ou se é gente de menos, ou se enfada por gente demais. Tá-dá.