domingo, 17 de maio de 2009

Love is all, Love is you.

Em certo ponto do filme Hannah e Suas Irmãs (assistam sem hesitar) o personagem de Woody se questiona: "Milhões de livros escritos sobre cada assunto concebível, por todas essas grandes mentes e, no fim, nenhum deles sabe mais das grandes questões do que eu". A partir daí, fala de Sócrates, grande violador de menininhos; Nietzsche, com sua teoria do eterno retorno, o que significaria ter de ver todos os filmes e programas de tv ruins de novo, não valeria a pena; Freud, outro grande pessimista - o analista do personagem foi tão infrutífero que acabou ele por frustrar-se; conclui, então: "Talvez os poetas estejam certo; talvez o amor seja a resposta".
E em verdade, seja dispensado um momento de cada dia para reflexões, sem dificuldades nos deparamos, assim de surpresa, com a falta de razão e propósito dos nossos dias, a princípio, se considerada nossa finitude, a fragilidade de um corpo, a falta de 'por quê's, a certeza desenganada de que viveremos a morte dos que amamos, com exceção ao fato de irmos nós antes, tanto pior; a incerteza da recompensa após anos de trabalho duro, a oposição entre os caminhos prudentes e nossos desejos aventurosos - paremos por aqui, fiquemos acordados, pois é infinita a lista, ou o fim não o distinguo, o que pouco tem de diferente. Que culpa têm os que se desesperam? Qual a fraqueza dos suicidas, se a vida não os municiou da força com que aguentassem o peso de seu conteúdo, esse novelo sem lógica ou propósito?
Algum sentido é necessário; e se a razão a si não se sustenta, nos voltamos à poesia - aqui como metonímia para qualquer arte - que da razão prescinde. E, em arte, temos por essência o amor tantas vezes versado, cantado, filmado e exercida de outras formas tantas. E amor podemos sentir e viver, e dele, sem que razão seja necessária, retiramos o sentido para uma vida que de outra maneira não o teria.
O que parece até o momento um texto feito convite a amar, pode agora decepcionar alguém mais romântico que o leia, pois não é bem nesses tons que se conclui. O amor carrega consigo beleza necessária para que plena se viva a vida, mas tem em si a fraqueza inequívoca que consiste em, de cada amor, sermos nós apenas metade. O amor, por vistoso que seja em princípio, é até de má-fé dizê-lo, mas do tempo recebe fungos, mau cheiro e se faz tumor, e ele não mais se vive, mas a ele se sobrevive até que se rompa, e voltamos todos à miséria de termos perdido o sentido que à vida concedemos, em tempos enamorados.
Mas e que fazer? Pode-se bem ter um balaço no crânio como resposta; se lhe convém, não protesto, pois resposta mesmo eu não a tenho. Convenço-me, por sobrevivência, a aceitar que da vida sentido só se obtém se aceita a pergunta que ela é, em absoluto; as perguntas, em verdade, uma variedade delas. E eu cá me apego à pergunta desse amor todo em forma de interrogação, e deixarei de perguntá-lo apenas no dia que até essa questão não me dê mais sentido.
Fiquemos com os Beatles, para quem 'love is old, love is new/ love is all, love is you".


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