
É de se viver, a alegria; motivo não há para trazê-la em parágrafos. Toda letra será de pouco efeito ante o sorriso que tente escrever. Mas em fato concreto, é feia a tristeza - lágrimas rançosas, soluços carregados, o negro sob os olhos. Que injustiça seria pensá-la assim, ela que tanto carrega em si de bonito, e tanto nos explica. Em verdade, vou mesmo aqui dizer que nunca tanto se sabe sobre um vivente quanto se pode saber através de suas dores. E por isso, aqui, sou mais eu do que em grande parte da minha vida, explicando-me por trazer-lhes, em letras, o que em mim há de triste; e de beleza não prescindo ao fazê-lo, seja pela arte que lhe dou por companhia em quase todo texto, seja pelo arranjo que bem sucedi em fazê-lo poético. E que se faça aqui justiça ao que de belo há em toda dor.
Infelizmente, o mundo não sabe sentir dor. Digo isso porque eu costumo não demonstrar nenhum tipo de dor ou sofrimento ao mundo, já que os outros o fazem e o mundo os leva abaixo. Alguém tem que estar impassível, alguém tem que manter as coisas nos eixos, não reclamar, não sofrer, não fraquejar, para que ainda exista esperança alguma nesse mundo. É mais fácil para mim, que sinto menos, que sofro menos, agregar o sofrimento dos outros e implodi-lo em minhas vísceras, afinal minha alma é seca, minha carne opaca, sou um belo espécime para recipiente de maus sentimentos. Não é dar uma de mártir, não. É seguir a lógica das coisas. Se eu posso conviver com dores, mortes, sofrimentos, pois não os sinto (ou não entendo suas gravidades a ponto de senti-los), então que venham a mim. Eu posso garantir a centelha de esperança de que precisa a humanidade, essa humanidade fraca que precisa de esperança, propósito e amor para viver.
ResponderExcluir