terça-feira, 19 de maio de 2009

O que de belo há em toda dor.

Trago cá as palavras de um mestre para que das minhas ideias se retire alguma pompa que se pudesse delas dizer. Disse Jorge Luis Borges: "A felicidade não precisa ser transmutada em beleza, mas a desventura, sim". Já o disse aqui, então amparado por Goethe, e cada vez mais estou convencido, até por ser essa a síntese dos meus motivos para vir aqui despejar algumas tantas letras para que se percam neste espaço infinito da internet. E perco-me eu com elas, ou o que de mim há nelas, e é bastante.
É de se viver, a alegria; motivo não há para trazê-la em parágrafos. Toda letra será de pouco efeito ante o sorriso que tente escrever. Mas em fato concreto, é feia a tristeza - lágrimas rançosas, soluços carregados, o negro sob os olhos. Que injustiça seria pensá-la assim, ela que tanto carrega em si de bonito, e tanto nos explica. Em verdade, vou mesmo aqui dizer que nunca tanto se sabe sobre um vivente quanto se pode saber através de suas dores. E por isso, aqui, sou mais eu do que em grande parte da minha vida, explicando-me por trazer-lhes, em letras, o que em mim há de triste; e de beleza não prescindo ao fazê-lo, seja pela arte que lhe dou por companhia em quase todo texto, seja pelo arranjo que bem sucedi em fazê-lo poético. E que se faça aqui justiça ao que de belo há em toda dor.

Um comentário:

  1. Infelizmente, o mundo não sabe sentir dor. Digo isso porque eu costumo não demonstrar nenhum tipo de dor ou sofrimento ao mundo, já que os outros o fazem e o mundo os leva abaixo. Alguém tem que estar impassível, alguém tem que manter as coisas nos eixos, não reclamar, não sofrer, não fraquejar, para que ainda exista esperança alguma nesse mundo. É mais fácil para mim, que sinto menos, que sofro menos, agregar o sofrimento dos outros e implodi-lo em minhas vísceras, afinal minha alma é seca, minha carne opaca, sou um belo espécime para recipiente de maus sentimentos. Não é dar uma de mártir, não. É seguir a lógica das coisas. Se eu posso conviver com dores, mortes, sofrimentos, pois não os sinto (ou não entendo suas gravidades a ponto de senti-los), então que venham a mim. Eu posso garantir a centelha de esperança de que precisa a humanidade, essa humanidade fraca que precisa de esperança, propósito e amor para viver.

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