Saudades é ter lacunas em seus dias que por você mesmo não se podem preencher; e se clichê é dizer que o tempo as preenche assim de forma tão natural, diga-se também que com o tempo faz-se nossa vida um desfile das lacunas que preenchemos plena ou debilmente, com as quais aprendemos ou não a conviver, e às quais sobrevivemos ou não.
Que se aprenda, então, a dizer adeus, se adeus for necessário, e convivamos com a presença do que em nossa vida passa a faltar; mas se necessário não for, não dê razão à crueldade que é o adeus antecipado, frígido e repleto de fundamentos; maiores serão as lacunas, maior o peso de uma ausência.
Se confuso parece o texto, é por confuso ele ser, realmente. E como desculpas pelas minhas saudades enfadonhas, tomem aí uma saudade de Dylan. Se você a vir, diga olá.
If you see her, say hello, she might be in Tangier
She left here last early spring, is livin' there, I hear
Say for me that I'm all right though things get kind of slow
She might think that I've forgotten her, don't tell her it isn't so.
We had a falling-out, like lovers often will
And to think of how she left that night, it still brings me a chill
And though our separation, it pierced me to the heart
She still lives inside of me, we've never been apart.
If you get close to her, kiss her once for me
I always have respected her for busting out and gettin' free
Oh, whatever makes her happy, I won't stand in the way
Though the bitter taste still lingers on from the night I tried to make her stay.
I see a lot of people as I make the rounds
And I hear her name here and there as I go from town to town
And I've never gotten used to it, I've just learned to turn it off
Either I'm too sensitive or else I'm gettin' soft.
Sundown, yellow moon, I replay the past
I know every scene by heart, they all went by so fast
If she's passin' back this way, I'm not that hard to find
Tell her she can look me up if she's got the time.
Queria eu ter essa perícia humana, porque perícia é, de sentir tanto e por duração muitas vezes perpétua. Tenho me enganado por muito tempo quanto ao chamado "calor humano". Eu não o tenho. Tento projetar situações em minha mente, em momentos de total concentração, em que perco amigos, família, tudo, e nada me parece tão indispensável assim. Falacioso seria dizer que eu não sentiria nada, também não é assim. Eu sentiria, seria chato, mas não duvido que no mesmo dia eu estaria sorrindo e me divertindo sem medo de quem eu posso perder amanhã. Dar valor não é minha virtude. Por anos acreditei eu possuir uma casca, invólucro protetor contra sentimentos, e não me desfazia dela por falta de quem a penetrasse. Quando aconteceu, o gozo da liberdade (de não estar preso mais à casca) durou o mesmo que o sofrimento de perder parentes e amigos próximos: quase nada. Não demorou muito para que eu cansasse daquilo tudo e parasse de fingir, não tive pena de dizer vários "adeus", e não sinto falta, sem saudades, toco a vida à frente, sem arrependimentos. Em tempo, suponho ser frieza mesmo, falta absoluta (absoluta, sim) de humanidade. Com eles, normal, sem eles, melhor. Eu, só eu, sou auto-suficiente, falo isso em questão de relações, mas eu me aconfortaria muito bem se pudesse ser o narrador-observador da humanidade. Estudá-la lá de fora, sem precisar que, para isso, finja ser normal, ser igual, ser humano.
ResponderExcluirA vida não passa de um demorado adeus =/
ResponderExcluirDe saudade eu entendo bem,conheço cada nota,
e ela me visita sempre que não posso recebê-la.
A saudade mais dolorida,é a saudade de quem se ama,não saber como frear as lágrimas diante de uma música que lembre aquela pessoa que foi tão especial pra vc,que te ensinou tantas coisas,e saber q nunca mais vai encontra-la,é a pior,decerto.
Se alguém consegue ser só saudade, esse alguém sou eu! :(
Eu raramente tenho saudade, pois me falta mesmo é memória. Não posso sentir saudade do que não lembro e, por algum motivo, acabo apagando muitos dos momentos de que mais se sentiria a tal da saudade...
ResponderExcluirAbraços,
Diogo.
Um aviso: o horário do blog tá errado! Dá uma olhada nisso.
ResponderExcluirAbraços,
Diogo.
Aprecio que tenha recebido de maneira tão positiva minha 'análise', no texto "Um sorriso". Aliás, precipitando-me ou não, gostaria de opinar que saudade nunca será algo enfadonho. Eu poderia descrever e moldá-la em palavras de tantas maneiras, tantas vezes a senti. E sinto. Diante de sua reflexão sobre o assunto, dos comentários acima, concluo, porém, que já não há mais nada a dizer. Seria repetição. Falar de adeus me é tão doloroso. Então só me resta pedir que continue nos deliciando com tão refinada leitura.
ResponderExcluirme acostumei a pensar em "anônimo" como um sujeito só; aparentemente, são mais de um; um com saudades, outro sem ;)
ResponderExcluirRsrsrsr. Pode ser.
ResponderExcluirSe bem que no final das contas só existe um mesmo. Paradoxalmente, esconder-me no anonimato já é uma maneira de explicitar quem sou. Pense melhor. ;)
Dio é a naturalização do brilho eterno de uma mente sem lembranças. Mas duvido, duvido mesmo dessa benevolência da falta de memória. Quando se tira da gente algo que tem raiz, se despenca de saudade e pronto. A memória não falha em lembrar. E lembrar. E lembrar.
ResponderExcluirE com a licença do mestre Guimarães Rosa para fazer citação de sua obra, diria: "Por esses longes todos eu passe, com pessoa minha no meu lado, a gente se querendo bem. Já tenteou sofrido o ar que é saudade? Diz-se que tem saudade de idéia e saudade de coração..."
ResponderExcluirComo ele também disse, toda saudade é uma espécie de velhice :~ E é mesmo!
sensacional.
ResponderExcluirNina.