segunda-feira, 19 de outubro de 2009

É do amor, o crime, a pergunta.

Tão fácil se incorre no erro de olhar quem hoje ocupa o lugar mais próximo de nós e, sem que haja más intenções, lançar sobre ele as expectativas todas por nossa razão dadas à luz. Espera-se então, do outro, que carregue sobre si fardo que muitas vezes desconhece; e se, em um passo dado a torto na trajetória a dois, derruba ele nossa carga - só nossa - e, desavisado, continua a caminhar sem que ao menos olhe para trás, que dor que é - e restamos nós também, ao chão, junto a tudo aquilo que só a nós cabia levar.
Que se entenda que, em assuntos de amor, a razão é tão somente porta, passagem, fronteira. Dela dispomos até o momento primeiro em que se toma a mão do outro, é dado o primeiro passo e, em silêncio, torna-se sabido, "vem comigo, que há de haver caminho à frente para nós". E tomada a decisão calada, foi-se; da razão resta a distância, apenas - a partir de então o amor é o vazio e a certeza da queda, sem controle senão a gravidade.
E se, ainda caidos, junto ao fardo nosso - só nosso - levantamos a cabeça e vemos que já vai o outro longe, seguindo, não resistimos e gritamos: "por quê?", em nem mesmo um instante tudo se desfaz, vem o chão, e nós a ele, a queda cessa; por companhia, apenas o fardo derrubado. Pois se é a morte o crime da vida, é do amor, o crime, a pergunta.