quarta-feira, 24 de junho de 2009

Microconto em 15 minutos da madrugada.

- A vida, como vai?
- A vida vai a mesma em tudo que isso diz, ou em verdade, vai ela a mesma em tudo que isso cala.
- Você fala feito literatura, e acho isso chato.
- Antes o fosse; em literatura o fim é pretexto para início qualquer. Nada seria escrito sobre este final sem lições que vivemos; qualquer ponto final em uma página em branco o escreveria melhor, e não há sentido em pontos finais, se finais o são.
- Que seja, não importa, não mais.
- Concordo, e até me surpreendo com isso.
- Se dizemos ambos concordar, algum de nós mente.
- E por que isso?
- A um de nós pertece esse corpo cá no chão, um de nós compartilha o podre que resta do que nele foi carne, a um de nós cabe carregá-lo, com todo o peso inequívoco do fungo e da carniça, sobre os ombros, aonde for.
- Nem o tinha notado.
- Mente.
- Minto.
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- E que bonito foi um dia esse amor.
- Houve beleza, por momento fugidio que seja, em tudo que foi vivo e já não há em vida.
- Literária, você, olha só. Aquele que de nós mente, afinal, vai carregar esse cadáver consigo, é isso?
- É isso.
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- Mentimos ambos, portanto?
- Eu, não.

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