terça-feira, 9 de junho de 2009

Todo amor já foi coisa diferente.

Todo amor já foi coisa diferente; entre o instante anônimo do primeiro suspiro e o momento doceamargo do último engasgo, não deixa ele de mudar, como bem mesmo o vivente que o encerra. E se já não mais há eloquência entre olhos um dia tão falantes, que não se culpem córneas e cristalinos - é mesmo o amor que, ante o fim, se cala, e espera mudo para, em um último esforço altruísta, morrer só. E descontada a nobre intenção, fato é que, em amor, nunca se morre sozinho.
Bem verdade que pode ele, em sua dinâmica, crescer e fazer-se forte, e sem dúvida o faz; é o momento para mostrá-lo e exercê-lo - nada mais rico em estética que sujeito carregado por amor robusto. Desapego, se possível fosse haver, seria aqui recomendado, pois não demoram pernas a fraquejar, o ar faz-se faltoso, e tão mais cedo do que se espera, somos nós a carregar sobre os ombros o corpo débil do que foi um amor a dois. Até por fim largá-lo, que se vire só, já que só estou também, vá aonde vão os amores senis e por lá se realize até que finalmente se desfaça em qualquer coisa que sobre de um sentimento liquidado. Ou bem se pode guardá-lo em gaveta pouco usada, e aqui se pode ou não entender metáfora, e vez em quando abri-la somente para, em vista do fungo, do mofo e do pus, constatar em amargura: todo amor já foi coisa diferente.


Para amenizar um tanto o ranço amargo dessas letras, vai aqui uma amargura um tanto mais doce.


Um comentário:

  1. adorei muito esse post, tanto que resolvi comentar, hehe. :)

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