quarta-feira, 7 de julho de 2010

apenas pela beleza do gesto



Sou um ingrato para com as letras. A elas recorro tão somente em momentos nos quais eu por mim mesmo não me sustento, e cá venho forrar minha cama com orações e períodos que me expliquem e me tragam qualquer leveza. Não se decepcionem, pois meu pecado é o mesmo, e cá estou novamente, de novo e sempre.
Tenho duvidado, a sério, de minha sanidade. A maneira pela qual teço expectativas sobre o que, e quem, me rodeia tem se mostrado turva e equivocada - ébrio, tenho estado, em espírito, sem descanso. Sobriedade deve haver em vida, ou onde se possa buscá-la, quando necessário. E onde posso eu buscá-la, agora que me é necessário? Creio ter chegado aonde queria ao começar a escrever, hoje; é necessário haver âncoras para não se perder em todo o infinito de uma individualidade. O indivíduo é entorpecente, quando não há mais convergência com todo resto. E eu, cá comigo, como me fixar novamente alguma razão? Qual minha âncora?
Recorro às letras, novamente, de novo e sempre. É exercício curioso o de escrever. Fácil de se concluir ser um canal direto entre o que há de ideia e o texto concreto, via expressa da cabeça ao papel. Também o é. Que incrível é perceber, contudo, que vêm também, do papel à cabeça, conclusões, ideias, sentimentos, novos e prontos para serem pensados, sentidos, praticados; e deles, tanto, se pode criar. E espero criar minha âncora à sobriedade, a partir deles. Portanto escrevo para que me venha algo novo, e que possa eu, mais uma vez, recorrer às letras, e que elas me amem também, se por nada mais, apenas pela beleza do gesto - de escrever.

A ideia sobre "amar pela beleza do gesto" vem dessa cena do filme "As canções do amor". Está provado que só é possível falar de amor em francês, por sinal.

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